terça-feira

Finalmente comprei

+ trevo
Amigos, já sabem o que me deverão oferecer (anos, natal, quando quiserem.)

segunda-feira

Troco

um dia de chuva por dois de sol.

domingo

Estado

como se fosse verão azul.

Fim-de-semana

imenso, grande, criador, iluminador, agradável, belo, motivador, preenchido, vivido, construtivo, imenso grande.

quinta-feira

AO 2016 - Alfabeto

Letras: 26

Inclusão: K, W, Y

Lêem-se:

- capa, cá

- dáblio, dâblio, duplo vê

- ípsilon, i grego

quarta-feira

Moi et

a Joaquim Pessoa não

Resistir

Dobrar na boca o frio da espora
Calcar o passo sobre lume
Abrir o pão a golpes de machado
Soltar pelo flanco os cavalos do espanto
Fazer do corpo um barco e navegar a pedra
Regressar devagar ao corpo morno
Beber um outro vinho pisado por um astro

Possuir o fogo ruivo sob a própria casa
numa chama de flechas ao redor.

Perguntas

Onde estavas
tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teen-agers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylon
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
Ou Alende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.

Outono

Uma lâmina de ar
Atravessando as portas. Um arco,
Uma flecha cravada no Outono. E a canção
Que fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.
E um velho marinheiro, grave, rangendo o cachimbo como
Uma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.
É outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza
Quando saio para a rua, molhado como um pássaro.
Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se
Da minha revolta última. Ou do teu nome que repito.
Hoje há soldados, eléctricos. Uma parede
Cumprimenta o sol. Procura-se viver.
Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.
Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se
Como se, de repente, não houvesse mais nada senão
A imperiosa ordem de (se) amarem.
Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.
Não há palavras que descrevam a loucura, o medo, os sentidos.
Não há um nome para a tua ausência. Há um muro
Que os meus olhos derrubam. Um estranho vinho
Que a minha boca recusa. É outono
A pouco e pouco despem-se as palavras.

terça-feira

Grandes


Alexandre O'Neill

Tenho saudade da escrita 4

Nome: David de Jesus Mourão-Ferreira
Nascimento: 1927, Lisboa
Morte: 16-6-1996, Lisboa

Escritor português, nasceu em Lisboa, em 1927 e morreu, também nesta cidade, em 1996. Licenciou-se em Filologia Românica em Lisboa, onde chegou a ser professor catedrático, organizando e regendo, entre outras, a cadeira de Teoria da Literatura. Foi secretário de Estado da Cultura, entre 1976 e 1979; diretor do diário A Capital; diretor do Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1984 e 1996; diretor da revista Colóquio/Letras; presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-86) e vice-Presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires. A sua obra reparte-se pela poesia; pela crítica literária, como Os Ócios do Ofício, Vinte Poetas Contemporâneos, Hospital das Letras ou Lâmpadas no Escuro (de Herculano a Torga); pelo ensaio; pela tradução; pelo teatro; pelo romance; e também pelo jornalismo. Embora os seus primeiros poemas datem de meados dos anos 40, a sua atividade poética começou a ganhar relevo quando foi codiretor, a par com António Manuel Couto Viana e Luís de Macedo, da revista Távola Redonda (1950-1954), que, sem apresentar programa ou manifesto, se orientava para uma alternativa poética à poesia social, baseada na "revalorização do lirismo", exigindo ao poeta "autenticidade e um mínimo de consciência técnica, a criação em liberdade e, também, a diligência e capacidade de admirar, criticamente, os grandes poetas portugueses de gerações anteriores a 1950. Sem reservas ideológicas ou preconceitos de ordem estética" (VIANA, António Manuel Couto - "Breve Historial" in As Folhas Poesia Távola Redonda, Boletim Cultural da F. C. G., VI série, n.º 11, outubro de 1988), atributos a que acresciam como exigências a reação contra a "imediatez da inspiração e contra o impuro aproveitamento da poesia para fins sociais", através do equilíbrio "entre os motivos e a técnica, entre os temas e as formas" (cf. MOURÃO-FERREIRA, David - "Notícia sobre a Távola Redonda" in Estrada Larga 3, p. 392). Foi no primeiro volume da Coleção de Poesia das Edições "Távola Redonda" que publicou a sua primeira obra poética, A Secreta Viagem, onde se encontram reunidos alguns dos traços que distinguiriam a sua poética posterior, nomeadamente a preferência pela temática amorosa, o rigor formal, a continuidade e renovação da lírica tradicional como, por exemplo, a de inspiração camoniana, ou a abertura a experiências poéticas estrangeiras. No poema "Dos Anos Quarenta", relembra leituras nessa etapa de iniciação poética: Proust, Thomas Mann, Rilke, Apollinaire, a "constelação pessoana", Álvaro de Campos, "E Régio Miguéis Nemésio", bem como as circunstâncias que rodearam essa descoberta, como o "despertar do deus Eros", a guerra, a queda dos fascismos e a perseverança da ditadura salazarista.
Da sua obra poética, cuja poesia se distingue pelo lirismo culto, depurado e subtil, destacam-se os seguintes livros: A Secreta Viagem, Do Tempo ao Coração, Cancioneiro do Natal, Matura Idade e Ode à Música.
A obra de David Mourão-Ferreira foi várias vezes reconhecida com prémios literários, como, por exemplo: Prémio de Poesia Delfim Guimarães, 1954, para Tempestade de verão; Prémio Ricardo Malheiros, 1960, para Gaivotas em Terra; Prémio Nacional de Poesia, 1971, para Cancioneiro de Natal; Prémio da Crítica da Associação Internacional dos Críticos Literários para As Quatro Estações; e, para Um Amor Feliz , os prémios de Narrativa do Pen Clube Português, D. Dinis, de Ficção do Município de Lisboa e o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. Ao autor foi ainda atribuído, em 1996, o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

Bibliografia: Vinte Poetas Contemporâneos, Lisboa, 1960; Motim Literário, Lisboa, 1962; Hospital das Letras, Lisboa, 1966; Discurso Directo, Lisboa, 1969; Tópicos de Crítica e de História Literária, Lisboa, 1969; Sobre Viventes, Lisboa, 1976; Presença da "Presença", Porto, 1977; A Acção Cultural de Afonso Lopes Vieira, Lisboa, 1978; Lâmpadas no Escuro, Lisboa, 1979; Portugal, a Terra e o Homem. Antologia de textos de escritores do século XX (co-aut. com Maria Alzira Seixo), Lisboa, 1980; A Ilha dos Amores e o Lirismo Erótico de Camões, Lisboa, 1980; Larbaud, Pessoa, Antero: o Recurso à Ode como Forma de Modernidade, Paris, 1983; Reflexos da Literatura Francesa em Portugal (1920-1984), Paris, 1984; O Essencial sobre Vitorino Nemésio, Lisboa, 1987; Nos Passos de Pessoa, Lisboa, 1988; Marguerite Yourcenar: Retrato de uma Voz, Lisboa, 1988; Sob o Mesmo Tecto. Estudos sobre Autores de Língua Portuguesa, Lisboa, 1989; Os Ócios do Ofício: Crónicas e Ensaios, Lisboa, 1989; Tópicos Recuperados sobre Crítica e Outros Ensaios, Lisboa, 1992; Magia, Palavra, Corpo: Perspectiva da Cultura de Língua Portuguesa, Lisboa, 1993; A Secreta Viagem, Lisboa, 1950; Tempestade de Verão, Lisboa, 1954; Os Quatro Cantos do Tempo, Rio de Janeiro, 1958; In Memoriam Memoriae, Lisboa, 1962; Infinito Pessoal ou a Arte de Amar, Lisboa, 1962; Do Tempo ao Coração, Lisboa, 1966; A Arte de Amar (reunião das cinco primeiras obras editadas), Lisboa, 1967; Lira de Bolso (antologia), Lisboa, 1969; Cancioneiro de Natal, Lisboa, 1971, Matura Idade, Lisboa, 1973; Sonetos do Cativo, Lisboa, 1974; As Lições do Fogo (antologia), Lisboa, 1976; Obra Poética (inclui À Guitarra e à Viola e Órfico Ofício), 2 vols. Lisboa, 1980; Entre a Sombra e o Corpo, Lisboa, 1980; Os Ramos e os Remos, Lisboa, 1985; Obra Poética (1948-1988), Lisboa, 1988; Jogo de Espelhos: Reflexos para um Auto-Retrato, Lisboa, 1993; Música de Cama: Antologia Erótica com um Livro Inédito, Lisboa, 1994; Gaivotas em Terra, novelas, Lisboa, 1959; Os Amantes, contos, Lisboa, 1968; Os Amantes e Outros Contos, Lisboa, 1974, Maria Antónia e Outras Mulheres: Contos Escolhidos, Lisboa, 1978; As Quatro Estações, Lisboa, 1980; Um Amor Feliz, Lisboa, 1986; Duas Histórias de Lisboa, Lisboa, 1987; O Irmão, Lisboa, 1965.

Infopédia
Enciclopédia da Porto Editora

O novo Acordo Ortográfico entrou em vigor em Janeiro de 2009. Mas, até 2015, decorre um período de transição, durante o qual ainda se pode utilizar a grafia actual.

domingo

Palavra do amanhã

desafio

Uma “anedota” que lhe contaram e me contaram

Inventou-se uma máquina de encontrar vigaristas.
Resumidamente na América, em França, no Brasil… encontraram-se tal e tantos.
Aconteceu em Portugal - a máquina desapareceu.

sexta-feira

Gosto

do cheiro do mar, do cheiro da maçã, do cheiro da manhã, do cheiro do sabão, do cheiro da bolacha, do cheiro da flor de páscoa, do cheiro da madeira, do cheiro da laranja, do cheiro do sol, do cheiro do livro, do cheiro do caderno, do cheiro da revista francesa, do cheiro do lápis de cor, do cheiro do cabelo, do cheiro da terra, do cheiro da broa, do cheiro dos meus perfumes, do cheiro a planta.

A propósito de “noções de silhuetas e sombras de Méliès” e "vitrais de Gerhard Richter" João Botelho

Nos primórdios do cinema, um homem soube explorar melhor de que ninguém as possibilidades fantásticas da recém-criada sétima arte. Não foi Thomas Edison nem nenhum dos irmãos Lumière, inventores dos primeiros aparelhos, mas um ilusionista, actor de teatro e realizador francês: Georges Méliès. A ele devemos, entre outras coisas, os efeitos especiais.

O filme que o celebrizou foi uma obra excepcionalmente longa para a época, com 14 minutos: Viagem à Lua (Le voyage dans la Lune), de 1902, baseado num romance de outro visionário seu conterrâneo, Jules Verne.

OBVIOUS


e
Gerhard Richter, nascido a 9 de Fevereiro de 1932, em Dresden, é um pintor alemão, considerado por críticos de arte como o "Picasso do século 21".

Não li mas vou ler

Obra narrativa de 1938, explora a psicologia de um jovem provinciano - Antunes, que tem pais "abastados" e que o mandam para a capital. Aí, Antunes vai conhecer Judite, mulher de clubes e recomendada pelo seu Tio, que o inicia no Amor. O jovem vai descobrir a autodeterminação do seu íntimo pessoal, encontrando-se com a humanidade, que não se procura, encontra-se.

O romance evidencia, portanto, "o imperativo das decisões vitais, na improbabilidade de uma ciência racional e experimental que as informe a cada passo (...) apresentando características de ficção psicologística burguesa ao gosto dos anos 30, com a vantagem, no entanto, de a motivação das personagens ou de cada atitude ser dada de um modo metafórico, ou pelo menos imaginoso, e não abstracto" (in História Ilustrada das Grandes Literaturas - Literatura Portuguesa VIII, 1ª edição, 2º Volume, Lisboa, Editorial Estúdios Cor, 1973, p. 698).

quinta-feira

À caça de mitos

no facebook Programa Harvard Medical School Portugal

quarta-feira

Tenho saudade da escrita 3

Nome: Fernando Gonçalves Namora
Nascimento: 15-4-1919, Condeixa
Morte: 31-1-1989, Lisboa


Poeta, pintor, ficcionista e ensaísta, formou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra. Colaborou com várias publicações periódicas, como Sol Nascente, O Diabo, Seara Nova, Mundo Literário, Presença, Altitude, Revista de Portugal, Vértice, entre outras. Autor de várias coletâneas de poesia e de uma pouco conhecida obra como artista plástico, é sobretudo como ficcionista que o nome de Fernando Namora marca a literatura portuguesa contemporânea, tendo granjeado um sucesso a nível nacional e internacional que não é alheio ao facto de essas duas vocações, a de poeta e a pintor, estarem "presentes no olhar e no dizer do ficcionista." (cf. MENDES, José Manuel - Encontros com Fernando Namora, Porto, 1979, p. 93). Depois da publicação de dois romances, que refletem a experiência universitária coimbrã, numa já segura articulação entre a análise psicológica e a atenção às determinantes sociais e históricas da conduta do indivíduo, a publicação da novela A Casa da Malta irá inscrever este autor na corrente neorrealista, opção facilitada pelo contacto com a realidade social e humana que a experiência de médico em meios rurais lhe impunha. Entre as narrativas que marcam mais visivelmente esta intenção social contam-se o célebre volume Retalhos da Vida de um Médico e as narrativas Minas de São Francisco, A Noite e a Madrugada e O Trigo e o Joio, embora Fernando Namora tenha sempre rejeitado qualquer dicotomia entre literatura de cunho social e de cunho psicológico, considerando, pelo contrário, que "a sondagem 'psicológica' e a 'sociológica' pertencem à mesma incessante tentativa de nos conhecermos, situados na circunstância que nos molda e condiciona" (id. ibi., p. 34). Romances como O Homem Disfarçado ou Cidade Solitária situam-no já no âmbito da geração de 50, ou de uma segunda geração neorrealista, registando o influxo do existencialismo na novelística portuguesa. Em 1965, abandonou a medicina para se consagrar à literatura, tendo então aceitado o cargo de presidente do Instituto de Cultura Portuguesa, no âmbito do qual desenvolveu iniciativas de apoio aos leitorados portugueses e presidiu à publicação de uma coleção de iniciação à cultura: a "Biblioteca Breve". Convicto de que o papel do escritor deverá ser o "de consciencializar e contestar, obstando à sacralização das pessoas e das fórmulas" (id. ibi., p. 110), a obra de Fernando Namora registou até às suas últimas produções, como constantes mais salientes, "a procura de uma íntima coerência (o rasgar das máscaras), o apelo à dignificação da existência, o apelo a tudo o que possa resgatar os humilhados e os atormentados, a descida aos abismos da solitude" (id. ibi., p. 31).


Bibliografia: Relevos, s/l, 1937; Mar de Sargaços, s/l, 1939; Terra, poema, Coimbra, 1941; As Frias Madrugadas, Lisboa, 1959; Marketing, poesia, Lisboa, 1969; Nome Para uma Casa, poesia, Lisboa, 1984; As Sete partidas do Mundo, Coimbra, 1938; Fogo na Noite Escura, Coimbra, 1943; Casa da Malta, novela, Coimbra, 1945; Minas de San Francisco, s/l, 1946; Retalhos da Vida de Um Médico, Lisboa, 1949; A Noite e a Madrugada, Lisboa, 1950; O Trigo e o Joio, Lisboa, 1955; O Homem Disfarçado, Lisboa, 1957; Cidade Solitária, Lisboa, 1959; Domingo à Tarde, Lisboa, 1961; Retalhos da Vida de um Médico, 2.ª série, Lisboa, 1963; Rio Triste, Lisboa, 1982; Deuses e Demónios da Medicina, biografias romanceadas, Lisboa, 1952; Esboço Histórico do Neo-Realismo, Lisboa, 1961; Diálogo em Setembro, Lisboa, 1966; Os Clandestinos, Lisboa, 1972; Um Sino na Montanha, cadernos de um escritor, Lisboa, 1968; Os Adoradores do Sol, cadernos de um escritor, Mem Martins, 1971; Estamos no Vento, Amadora, 1974; A Nave de Pedra, Amadora, 1975; Cavalgada Cinzenta, Amadora, 1977; Resposta a Matilde, Amadora, 1980; Sentados na Relva, Lisboa, 1986; URSS Mal Amada Bem Amada, crónica, Venda Nova, 1986; Autobiografia, Lisboa, 1987.

Infopédia
Enciclopédia da Porto Editora

O novo Acordo Ortográfico entrou em vigor em Janeiro de 2009. Mas, até 2015, decorre um período de transição, durante o qual ainda se pode utilizar a grafia actual.

Estou

terça-feira

Tendo saudade da escrita 1

Nome: Fernando António Nogueira Pessoa
Nascimento: 13-6-1888, Lisboa
Morte: 30-11-1935, Lisboa

Poeta, ficcionista, dramaturgo, filósofo, prosador, Fernando Pessoa é, inequivocamente, a mais complexa personalidade literária portuguesa e europeia do século XX. Após a morte do pai, partiu com sete anos para a África do Sul onde o seu padrasto ocupava o cargo de cônsul interino. Durante os dez anos que aí viveu, realizou com distinção os estudos liceais e redigiu alguns dos seus primeiros textos poéticos, atribuídos a pseudónimos, entre os quais se salienta o de Alexander Search. Com dezassete anos, abandona a família e regressa a Portugal, com a intenção de ingressar no Curso Superior de Letras. Em Lisboa, acaba por abandonar os estudos, sobrevive como correspondente comercial de inglês e dedica-se a uma vida literária intensa. Desenvolve colaboração com publicações (algumas delas dirigidas por si) como A República, Teatro, A Águia, A Renascença, Eh Real, O Jornal, A Capital, Exílio, Centauro, Portugal Futurista, Athena, Contemporânea, Revista Portuguesa, Presença, O Imparcial, O Mundo Português, Sudoeste, Momento. Com Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, entre outros, leva, em 1915, a cabo o projeto de Orpheu, revista que assinala a afirmação do modernismo português e cujo impacto cultural e literário só pôde cabalmente ser avaliado por gerações posteriores. Tendo publicado em vida, em volume, apenas os seus poemas ingleses e o poema épico Mensagem, a bibliografia que legou à contemporaneidade é de tal forma extensa que o conhecimento da sua obra se encontra em curso, sendo alargado ou aprofundado à medida que vão saindo para o prelo os textos que integram um vastíssimo espólio. Mais do que a dimensão dessa obra, cujos contornos ainda não são completamente conhecidos, profícua em projetos literários, em esboços de planos, em versões de textos, em interpretações e reflexões sobre si mesma, impõe-se, porém, a complexidade filosófica e literária de que se reveste. Dificilmente se pode chegar a sínteses simplistas diante de um autor que, além da obra assinada com o seu próprio nome, criou vários autores aparentemente autónomos e quase com existência real, os heterónimos, de que se destacam - o seu número eleva-se às dezenas - Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, cada um deles portador de uma identidade própria; de uma arte poética distinta; de uma evolução literária pessoal e ainda capazes de comentar as relações literárias e pessoais que estabelecem entre si. A esta poderosa mistificação acresce ainda a obra multifacetada do seu criador, que recobre vários géneros (teatro, poesia lírica e épica, prosa doutrinária e filosófica, teorização literária, narrativa policial, etc.), vários interesses (ocultismo, nacionalismo, misticismo, etc.) e várias correntes literárias (todas por si criadas e teorizadas, como o paulismo, o intersecionismo ou o sensacionismo). Elevando-se aos milhares de milhares as páginas já publicadas sobre a obra de Fernando Pessoa, e, muito particularmente, sobre o fenómeno da heteronímia, uma das premissas a ter em conta quando se aborda o universo pessoano é, como alerta Eduardo Lourenço, não cair no equívoco de "tomar Caeiro, Campos e Reis como fragmentos de uma totalidade que convenientemente interpretados e lidos permitiriam reconstituí-la ou pelo menos entrever o seu perfil global. A verdade é mais simples: os heterónimos são a Totalidade fragmentada [...]. Por isso mesmo e por essência não têm leitura individual, mas igualmente não têm dialéctica senão na luz dessa Totalidade de que não são partes, mas plurais e hierarquizadas maneiras de uma única e decisiva fragmentação. (p. 31) Avaliando a posteriori o significado global dessa aventura literária extraordinária revestem-se de particular relevo, como aspetos subjacentes a essas múltiplas realizações e a essa Totalidade entrevista, entre outros, o sentido de construtividade do poema (ou melhor, dos sistemas poéticos) e a capacidade de despersonalização obtida pela relação de reciprocidade estabelecida entre intelectualização e emoção. Nessa medida, a obra de Fernando Pessoa constitui uma referência incontornável no processo que conduz à afirmação da modernidade, nomeadamente pela subordinação da criação literária a um processo de fingimento que, segundo Fernando Guimarães, "representa o esbatimento da subjetividade que conduzirá à poesia dramática dos heterónimos, à procura da complexidade entendida como emocionalização de uma ideia e intelectualização de uma emoção, à admissão da essencialidade expressiva da arte" bem como à "valorização da própria estrutura das realizações literárias" (cf. O Modernismo Português e a sua Poética, Porto, Lello, 1999, p. 61). Deste modo, a poesia de Fernando Pessoa "Traçou pela sua própria existência o quadro dentro do qual se move a dialética mesma da nossa Modernidade", constituindo a matriz de uma filiação textual particularmente nítida à medida que a sua obra, e a dos heterónimos, ia, ao longo da década de 40, sendo descoberta e editada, a tal ponto que, a partir da sua aventura poética, se tornou impossível "escrever poesia como se a sua experiência não tivesse tido lugar." (LOURENÇO, Eduardo, cit. por MARTINHO, Fernando J. B. - Pessoa e a Moderna Poesia Portuguesa - do "Orpheu" a 1960, Lisboa, 1983, p. 157.)

Bibliografia: 35 Sonnets, Lisboa, 1918; English Poems, I, II e III, Lisboa, 1921; Mensagem, Lisboa, 1934; Obras Completas, 11 vols., Ática, 1942-80; Obra Poética (org., intr., e notas de Maria Aliete Galhoz), Rio de Janeiro, 1965; Obras em Prosa (org., intr., e notas de Cleonice Berardinelli), Rio de Janeiro, 1974; Obra Poética e em Prosa, (org. intr. bibli. e not. de António Quadros), 17. vols, Lisboa, 1985-86, 3 vols, Porto, 1986. Edições Críticas da Obra de Fernando Pessoa: Fernando Pessoa-Ricardo Reis: Os Originais, as Edições, o Cânone das Odes (org. e apres. Silva Belkior), 1983; O Manuscrito de O Guardador de Rebanhos (edição fac-similada com texto crítico de Ivo Castro), Lisboa, 1986; Texto Crítico das Odes de F. Pessoa-Ricardo Reis: tradição impressa revista e inéditos (notas e comen. de Silva Belkior), Lisboa, 1988; A Passagem das Horas de Álvaro de Campos (edição crítica de Cleonice Berardinelli), Lisboa, 1988; Edição Crítica de Fernando Pessoa, vol. II, Poemas de Álvaro de Campos (edição crítica de Cleonice Berardinelli), 1990, reed., aum. e corr. 1992; Álvaro de Campos - Livro de Versos (ed. crítica org. e apres. por Teresa Rita Lopes), Lisboa, 1993; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo I (ed. João Dionísio), 1993; Mensagem - Poemas Esotéricos (edição crítica e coord. José Augusto Seabra), Madrid, 1993; Edição Crítica de Fernando Pessoa, vol. III, Poemas de Ricardo Reis (edição crítica por Luis Fagundes Teles), Lisboa, 1994; Poemas Completos de Alberto Caeiro prefácio de Ricardo Reis posfácio de Álvaro de Campos (recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha, posfácio de Luís de Sousa Rebelo), 1994; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume I, Poemas de Fernando Pessoa: Quadras (ed. Luís Prista), Lisboa, 1997; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo II (ed. João Dionísio), 1997; Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume V, Poemas Ingleses, tomo III (ed. Marcus Angioni e Fernando Gomes), 1999. Edição Crítica de Fernando Pessoa, volume I, Poemas de Fernando Pessoa, 1934-1935, tomo V, (ed. Luís Prista), Lisboa, 2000.Correspondência: Cartas a Armando Cortes-Rodrigues (intr. e ed. Joel Serrão), Lisboa, 1944, reed. 1960; Cartas a João Gaspar Simões (editadas e prefaciadas pelo destinatário), Lisboa, 1957, reed. 1988; Cartas de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, 2 vols., Lisboa, 1958-59; Cartas de Amor de F. Pessoa, vol. I (org. e pref. Urbano Tavares Rodrigues), Lisboa, 1958; (org., posfác. e notas de D. Mourão-Ferreira, estabelecimento do texto e preâmbulo de Maria da Graça Queirós), 2 vols., Lisboa, Ática, 1978; Correspondência inédita de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (leitura, intr. e notas de Arnaldo Saraiva), Porto, 1980; Cartas de Amor de Ofélia a Fernando Pessoa (org. de Manuela Nogueira e Maria da Conceição Azevedo), Assírio e Alvim, 1996; Correspondência Inédita, (org. e notas Manuela Parreira da Silva, pref. Teresa Rita Lopes), Lisboa, 1996; Correspondência (1923-1935) (ed. Manuela Parreira da Silva), Lisboa, Assírio e Alvim, 1999; Correspondência (1902-1934) (ed. Manuela Parreira da Silva), Lisboa, 2000.


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O novo Acordo Ortográfico entrou em vigor em Janeiro de 2009. Mas, até 2015, decorre um período de transição, durante o qual ainda se pode utilizar a grafia actual.

Pela matina

O canto de um pássaro acordou-me de um sonho mau.

segunda-feira

Ouvir do que se fala

Esperanza Spalding
Adele
Zumba
George Michael
Feeder
Shout Out Louds
Pearl Jam
Swans
Asian Dub Foundation
Lady Antebellum
Cristina Branco
Miyavi

Incenso

sexta-feira

Coimbra city

Uma vez que a Figueira-da-Foz sem sol não está em questão. Haverá tempo. Talvez em Abril sem águas mil.
Portanto. De olho na Stradivarius. Sempre a FNAC. Sem esquecer o segundo na ZARA.
A Baixa cada vez mais fantasma. O Parque Verde verde está. O Mondego vai na sua cadência esperta. Coimbra é Coimbra

também da Marta.

quinta-feira

- GONZO&ABRUNHOSA (coisas que me irritam)

A compilar


Gosto & Não Gosto

... ... ...

Gosto mais do que não gosto ponto final

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos.
Fernando Pessoa

Lembrar é saber

Poeta, jornalista, político, polemista e historiador, é todavia como romancista que Alexandre Herculano será mais lembrado pelas gerações vindouras. As suas narrativas históricas assinalam o nascimento de um novo género na literatura portuguesa - o romance histórico - no qual o autor pode pôr em prática as qualidades de investigador do passado, principalmente da Idade Média, e os seus propósitos pedagógicos.
Publica A Harpa do Crente, colecção das poesias mais importantes, reeditada em 1850 com traduções/versões de Béranger (“O Canto do Cossaco”), Bürger (“O Caçador Feroz”, “Leonor”), Delavigne (“O Cão do Louvre”), Lamartine (“A Costureira e o Pintassilgo Morto”) e uma balada fantasmagórica ao gosto inglês (“A Noiva do Sepulcro”).
Publica n’ O Panorama a primeira narrativa histórica, O Castelo de Faria, e em Novembro Mestre Gil. Estas e outras composições, publicadas também n’ A Ilustração, foram reunidas em dois volumes em 1851, sob o título de Lendas e Narrativas. Os romances O Bobo (vindo a público n’ O Panorama em 1843 e editado em volume em 1878), Eurico, o Presbítero (1844) e O Monge de Cister (1848), escritos à semelhança das obras do escocês Walter Scott, considerado por Herculano como “modelo e desesperação de todos os romancistas”.
Nestas obras, o romancista cria cenários lúgubres e de dimensões trágicas, nos quais se movimentam românticos heróis atormentados por paixões e mulheres-anjo predestinadas para o sofrimento, sobrepostos a um pano de fundo histórico minuciosamente reconstituído.

Instituto Camões

domingo

Domingo

uma breve passagem pela FNAC. Havia música. Jazz? Outras coisas havia a fazer.

quinta-feira

Mãe


É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.

Crespúsculo
David Mourão-Ferreira

quarta-feira

Sem touradas

I

bilhete de identidade

Observo a caligrafia azul
do meu nome – paisagem
imutável como o caminho
que aprendemos na infância
e somos incapazes de esquecer.
Vista daqui, a impressão
digital é um labirinto.

atropelamento e fuga

Quando atravessas
a avenida, a realidade
colhe-te. Ficas caído
no asfalto, em pânico,
zonza figura, sem saber
ao certo quantos ossos
do teu corpo se podem
considerar intactos.

tgv

Lembro-me:
a paisagem
acumulava-se,
retorcia-se,
devorava-se
como a
serpente
à sua cauda,
era já outra
coisa.

terra incógnita

A partir daqui,
não sabemos nada.

José Mário Silva